segunda-feira, 27 de julho de 2009

Onde foi que nós erramos Niemayer?

Se pudesse, ainda na época da construção de Brasília, o arquiteto e comunista Oscar Niemayer, teria pintado a Praça dos Três Poderes de vermelho.



Certamente a “Praça Vermelha dos Três Poderes”, seria muito mais bonita e teria um nome muito mais pomposo, além de trazer um pouco de cor aos prédios sempre brancos da nossa Capital Federal.



O projeto de Lúcio Costa e Niemayer era realmente avançado para a época: previa a derrubada de todos os “muros de Berlim” que separavam o país entre ricos e pobres.



Brasília foi concebida como cidade-parque, priorizando a preservação da natureza e o relacionamento humano.



As primeiras residências, prédios de apartamentos funcionais, foram construídas valorizando a simplicidade e a praticidade, mas sem garagem para automóveis, já que os idealizadores de Brasília acreditavam que todos utilizariam o transporte coletivo, que seria oferecido na cidade.



As residências foram construídas em áreas reservadas exclusivamente para elas, longe do barulho e cercada por parques e comércio local, onde a área pública, livre dos muros, seria o local de convívio do candango, nas tardes de domingo. Ainda existia o lago Paranoá, que seria uma espécie de praia, para uma cidade extremamente quente e seca.



Para completar o projeto, Niemayer colocou uma foice bem de frente ao Congresso Nacional, no memorial JK, usando o ex-presidente trabalhador, como martelo, completando todo o simbolismo que a cidade exigia como parte de sua história.



A cidade estava preparada para receber os novos habitantes; não os nordestinos trabalhadores da construção civil que haviam terminado a mais formidável obra da arquitetura brasileira, estes já viviam bem longe, na Cidade Livre, que seria derrubada, segundo o projeto inicial.



Os primeiros moradores da Nova Capital eram os funcionários públicos da velha capital, vindos do Rio de Janeiro; e os políticos vindos de todas as regiões do país.



Quando os políticos aqui chegaram, não queriam a simplicidade dos apartamentos funcionais e passaram a invadir a orla pública do lago Paranoá com suas lanchas poluidoras; inviabilizando o uso do lago para o lazer dos banhistas.



Logo, os altos funcionários dos três poderes, passaram a murar suas residências com grades e cercas elétricas, com medo do povo que chegava à capital com a esperança de uma vida melhor.



Surgiram então diversos setores de mansões, onde os ministros e outras autoridades faziam suas festas regadas a sexo e orgias com o dinheiro público e negociatas para superfaturamento de ambulâncias e hospitais.



As zonas comerciais passaram a servir de moradia para trabalhadores de baixa renda e até salas escuras no subsolo tornaram-se residências.



Brasília tornou-se extremamente elitista e confinou o povo pobre que não queria morar como bicho, abaixo do chão, nas cidades satélites; bem longe das madames endinheiradas que chegavam ávidas por compras e cirurgias plásticas.



O metrô, criado muito tempo depois, foi desligado nos finais de semana, a fim de evitar uma enxurrada de pobres, vindos da expansão do setor O de Ceilândia, nas festas elitistas regadas a vinho do Lago Sul e Norte.



E assim, Brasília foi tornando-se um retrato fiel do Brasil, com todas as suas desigualdades sociais e raciais; e deixando de lado a sua essência; o intuito para a qual foi criada e que seria a sua vocação, de ser a primeira cidade socialista do país.



Onde foi que nós erramos Niemayer?

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