Você já conhece Manari?
Talvez o nobre leitor nunca tenha ido a Manari, mas já pode ter ouvido falar.
Manari, é o nome de um povoado que tornou-se município a menos de dois anos e ficou conhecida no Brasil inteiro depois de uma reportagem do Fantástico sobre IDH.
A cidade, que fica no sertão de Pernambuco, foi classificada em 2006 como a pior cidade do Brasil, pelo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
Confesso que, não fosse pela minha profissão de jornalista, jamais teria visitado Manari, o que seria uma pena.
Em Manari não existe aeroporto nem rodoviária, a única forma de chegar na cidade é de carro em estradas de terra e passando por regiões pouco habitadas; em geral plantações de cana ou capim já queimados pelo Sol fazem parte da paisagem.
Manari é uma cidade extremamente quente, mas como toda cidade do mundo têm suas belezas naturais, as mulheres, por exemplo: elas se arrumam para passear na única praça da cidade, no sábado à noite, ao lado do “trailler” que vende sanduíche, refrigerante e cerveja, até às 22h.
Em Manari não se paga IPTU, pois os moradores não possuem dinheiro para isto, o que naturalmente reduz a arrecadação da cidade; o aluguel de uma casa de dois dormitórios gira em torno de R$50,00/mês e a água é custeada pela Prefeitura do Município.
Como toda cidade pequena, Manari tem ao redor da praça uma igreja, que foi a primeira construção dali.
A cidade nasceu da fé de seus moradores, já que camponeses desempregados estabeleciam-se ali, ao lado do padre, a espera de Deus e de uma nova oportunidade de emprego e por ali mesmo se viravam: do trabalho temporário, da caça de algum bicho silvestre etc.
Manari foi crescendo e hoje tem até rádio comunitária, prefeito, vereadores e um pequeno comércio sustentado pelo programa Bolsa Família do governo federal.
Fui até a Câmara Municipal, mas como era segunda-feira não havia sessão e, portanto nenhum vereador. Qualquer semelhança com o Congresso Nacional é mera coincidência.
Ficamos eu e a equipe de TV da Radiobrás, hospedados no único hotel da cidade, que ainda não tem nenhuma estrela: “a estrela daqui sou eu” diz a dona, que administra o local sozinha, com a ajuda das duas filhas, bonitas por sinal.
A hora do banho gelado tem que ser pala manhã, já que na cidade não tem água encanada e no final do dia a água acabou. O eterno problema do Nordeste brasileiro continua sendo a água.
No quarto onde fiquei hospedado tem apenas uma cama, um vitrô menor que a janela de uma cela e a parede pintada de um rosa já quase marrom.
O único banheiro do hotel, está sempre ocupado e a descarga não funciona: “amanhã o rapaz vem arrumar” - grita a dona para um hóspede que reclama da má qualidade do serviço, apesar da diária de R$5,00.
Manari é realmente muito interessante, a cidade acorda cedo, com os sinos da igreja, que lota no domingo; existem muitos cachorros perambulando pelas ruas e vendedores que trazem da cidade grandes novidades a preço baixo para a dona de casa moderna.
Curioso, pergunto para uma jovem de vinte e poucos anos como é a diversão em Manari: “navegar!” – ela responde.
Impossível! Penso eu...Manari não conhece uma praia a muitos quilômetros de distância, até água de poço é raridade por ali.
“Navegar na internet!” - explica ela.
Fico sabendo que Manari não tem água encanada ou escola secundária, mas já possui uma Lan House! Ainda com poucos computadores é verdade, mas ela está ali, no meio do sertão pernambucano.
Entrei para conhecer a Lan House e vi que os jovens dali estão inteirados em tudo o que acontece no Brasil e no mundo, mesmo tão distante dos grandes centros urbanos. Eles têm MSN, estão no Orkut e têm até comunidade.
Pensando bem, foi a melhor viagem que fiz; não trocaria aquele local por nenhum hotel de luxo. Ao ir embora penso que todo brasileiro deveria conhecer Manari, pois é um local onde se aprende muito mais do que em shoppings abarrotados de turistas soberbos.
E então, você já conhece Manari?
WJr.
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